Uma das coisas mais perturbadoras que o século XXI nos trouxe é a sensação generalizada de que tem sido travada uma guerra na esfera pública. Apesar de toda a ressonância que os movimentos cívicos e políticos têm, principalmente no que diz respeito às mulheres e aos direitos civis, nunca houve tantos líderes políticos conservadores e reacionários. Assim, as ações participativas tendem a ser vistas em extremos. Ou são urgentes e consequentes; ou consideradas fúteis e impotentes.
Participar numa performance pode ser um meio poderoso de inscrever os nossos desejos e sentimentos individuais na dinâmica social. A comunidade provisória que se forma em público – e a sua força política advém justamente desse processo – pode ajudar-nos a ampliar e a fortalecer as nossas cosmologias pessoais e idiossincráticas.
Nesse contexto, a questão de como passar de uma percepção subjetiva de uma performance ao vivo para uma ação política externa – ou, em outras palavras, como passar da estética à ética – entra em cena. Essa passagem da experiência do encontro para a decisão individual de agir, essa transformação interior, essa Viragem, é algo que abordaremos na Escola de Verão deste ano.
Resolvemos isto lá fora: do espectador ao cúmplice envolve a análise de algumas das performances do festival – trazendo assim o nosso reflexo interior sobre o mundo, também através do nosso compromisso corporal/físico de “virar a página” – tendo a prática de Alessandro como o terreno de onde podemos emergir.
5/10 Das 11h às 21h30
Alessandro Sciarroni é um criador italiano activo nas artes performativas, artes visuais e pesquisa teatral. Tem apresentado os seus trabalhos em festivais de dança e teatro, museus, galerias e espaços não convencionais, em instituições e eventos de relevo em todo o mundo, de entre os quais se destacam Biennale de la Danse de Lyon, Kunstenfestivaldesarts (Bruxelas), Impulstanz (Viena), Festival d’Automne, Centquatre e Centre Pompidou (Paris), Festival TBA (Portland), Biennale di Venezia, The Walker Art Center (Minneapolis) ou Museo MAXXI (Roma).
O seu trabalho ultrapassa as definições de género — usa a estrutura teatral, mas pode recorrer a técnicas e experiências da dança, do circo ou do desporto, envolvendo regularmente profissionais de diferentes disciplinas. Além do rigor, coerência e clareza, procura descobrir obsessões, medos e fragilidades do acto de interpretar, através da repetição de uma prática até aos limites da resistência física dos intérpretes, considerando uma dimensão diferenciada de tempo e uma relação empática entre o público e os artistas.