María Jerez, em colaboração com Quim Pujol, convida-nos a trabalhar com o imperativo de um verbo inventado: “indíralo”. A definição desse verbo será “não fazer algo individualmente” e designa uma prática em que decididamente não se age de forma isolada. Nesta prática, o corpo coletivo é incontornável e as ações, descobertas e composições têm sempre de ser definidas à medida que ocorrem na comunidade, entendendo esta como algo humano e não humano.
Este imperativo é a decisão de propor, de forma coreográfica, outras formas de fazer que se afastam de ações autónomas, sublinhando que os processos são sempre coletivos, interdependentes e ecossistémicos.
Trabalharemos na coreografia de um cérebro múltiplo e divergente que não se desloca numa só direção, mas antes ao longo de muitas linhas simultâneas que não foram acordadas, para nos relacionarmos com o que não conhecemos e ainda não foi definido. Trata-se de um estado de incerteza coletiva.
Sabemos que estamos juntos “nisto”, mas “isto” nunca é definido, é um enigma que mantemos entre todos nós, humanos e não humanos. Como podemos relacionar-nos com o que suspende o sentido e o significado?
“Indíralo” é a celebração deste relacionamento, desta junção no enigma. Os Slow Reading Club (Henry Andersen e Bryana Fritz) declaram: “Pensar em conjunto tem uma intensidade estranha e hermética que é difícil mapear de dentro. A colaboração é uma espécie de pensamento não humano, de ficção científica. O cérebro coletivo não é uma combinação ou síntese de duas posições individuais, mas um parasita que age como hospedeiro em dois corpos, depois rebenta e abandona-os após recolher os seus nutrientes”.*
Ao pegar nesta ideia de colaboração como forma de pensamento não humano, “índíralo” procura colocar em prática uma inteligência que nos transcende, que escapa às nossas intenções e começa a agir “entre” as partes envolvidas com uma identidade própria.
Ao contrário de figuras individuais como o herói, o protagonista ou o autor, “índiralo” propõe destacar uma coletividade que permanece invisível ou em segundo plano, mas que está sempre presente. “Indíralo” revisita as figuras do coro, o corpo de baile, a paisagem, o público, o trabalho… “Indíralo” tem mais a ver com formigas, zumbido, rodopios ou a floresta do que com o solista, a primeira bailarina ou o faça-você-mesmo.
Estas práticas precisam sempre de mais aliados, do “outro”, mas não necessariamente com as mesmas configurações. Como tal, tanto podem ser executadas em duo como em trio ou ainda em grupos maiores. Ao mesmo tempo, podem assumir várias formas, uma vez que o que é executado pode estar sempre a mudar: uma respiração, um movimento, um texto, uma escultura, uma dança, uma construção, uma canção…
Para desenvolver estas práticas, poderíamos trabalhar com configurações diferentes. De cada vez, os participantes humanos e não humanos serão dispostos de maneira diferente (trios, quartetos, quintetos) e trabalharão com materiais diferentes, para definir a própria prática e criar um conjunto de coreografias que, por sua vez, darão origem a objetos diferentes: textos, esculturas, movimentos, canções…
* https://www.moussemagazine.it/magazine/slow-reading-club-damien-and-the-love-guru-brussels-2022/
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INFORMAÇÕES PRÁTICAS
Participantes: Artistas, investigadores e estudantes de todas as áreas disciplinares, com interesse em práticas colaborativas.
Nº máximo de participantes: 12
Inscrições: Até 7 de Maio
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Os workshops serão em portunhol e inglês, porém o idioma em si será um local de intervenção artística e novas palavras, expressões e estruturas gramaticais podem ser desenvolvidas ao longo da semana.
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Valor a pagar
100 € (10% desconto para estudantes FLUL)
A inscrição inclui participação em todas as atividades da escola, alojamento (em camarata), refeições e seguro de acidentes pessoais. Não inclui deslocações.
Todos os anos, oferecemos uma bolsa para Na Prática Escola de Verão a uma pessoa de cada uma das escolas parceiras e nas seguintes condições
— Estudantes do Programa em Estudos de Teatro ou Investigadores do Centro de Estudos de Teatro da FLUL
— Estudantes da Escola Superior de Dança
— Estudantes do Curso de Teatro da ESAD.CR – Escola Superior de Artes e Design, Caldas da Rainha
Se é o teu caso, por favor preenche os campos do formulário assinalados com ✤
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Modo de inscrição
As pessoas interessadas deverão preencher este formulário
(clicar aqui).
As inscrições serão analisadas e realizada uma seleção, considerando a diversidade e relevância dos perfis de participantes na constituição do grupo e no desenvolvimento das questões propostas.
10h–11h Boas-vindas aos participantes humanos
11h–13h Indíralo: ensaiando uma montagem supra-humana. Convidado especial: Centro Ciência Viva de Alviela - Carsoscópio
13h–14h Almoço
14h–15h Visita em grupo ao subconsciente coletivo (cochilo comunitário)
15h–17h Discussão divergente: “o que estás cansado de fazer sozinho?”
17h–17h30 Resumo além do consenso
Quinta-feira, 6 de julho
10h–13h Indíralo: ensaiando uma assembleia supra-humana. Convidada especial: a caverna
13h–14h Almoço
14h–15h Visita de grupo ao subconsciente coletivo (cochilo comunitário)
15h–17h Escultura divergente
17h–17h30 Resumo além do consenso
Sexta-feira, 7 de julho
10h–13h Indíralo: ensaiando uma assembleia supra-humana. Convidado especial: o rio
13h–14h Almoço
14h–15h Visita de grupo ao subconsciente coletivo (cochilo comunitário)
15h–17h Escrita divergente
17h–17h30 Resumo além do consenso
Sábado, 8 de julho
10h–13h Indíralo: ensaiando uma montagem supra-humana. Convidada especial: a floresta
13h–14h Almoço
14h–15h Visita em grupo ao subconsciente coletivo (cochilo comunitário)
15h–17h Coreografia Divergente
17h–17h30 Resumo além do consenso
Domingo, 9 de julho
10h–13h Indíralo: ensaiando uma montagem supra-humana. Convidado especial: os espíritos
13h–14h Almoço
14h–15h Visita em grupo ao subconsciente coletivo (cochilo comunitário)
15h–17h30 Assembleia Divergente (sessão aberta ao público)
(1978). O seu trabalho transita “entre” a coreografia, o cinema e as artes plásticas. Desde 2004, realiza peças que exploram a relação com o espectador enquanto espaço em que os modos de representação são postos em crise. De “O Caso do Espectador” às suas peças mais recentes, esta relação tem-se alterado, de um lugar de “compreensão” das convenções teatrais e cinematográficas, ou seja, da perícia, para a perda intencional de referências onde o artista, a peça e o espectador se comportam uns com os outros como estranhos. María combina a produção de seu trabalho artístico com projetos educacionais, curatoriais e editoriais.
(1978) trabalha entre a poesia e as artes vivas. As suas últimas peças são “The Message From Other Worlds” (2021) e “Variedade de variedades” (2022). Participou em exposições como “Interval. Sound Actions”, na Fundació Antoni Tàpies ou “Visceral Blue”, em La Capella. Editou, com Ixiar Rozas, o volume relacionado com a teoria do afeto “Ejercicios de ocupación” (Ediciones Polígrafa, 2015). Foi também curador do programa de artes experimentais Mercat de les Flors (2011-2015) e das Picnic Sessions do CA2M (2023).