na prática escola de verão
Impacto-Zero ou Podemos Ainda Imaginar um Futuro?
Com Lígia Soares, Henrique Frazão
2 — 6 julho 2024 | Centro Ciência Viva do Alviela (Alcanena), Portugal
2024

Na próxima edição de Na Prática, contamos com Lígia Soares e Henrique Frazão, que nos convidam a debruçar sobre o impacto político do fazer artístico e do ativismo através do encontro entre diferentes modos de pensar e agir no mundo. Investigando o carácter simbólico, literal, estético e social que um gesto artístico ou uma ação de protesto adquirem, procuraremos explorar perspetivas e formas de abordagem que reforcem o valor político de ambas as práticas em torno de causas comuns. Iremos prestar atenção também ao modo como os contextos definem a interpretação das nossas ações: como um mesmo discurso é recebido por diferentes públicos em diferentes ocasiões. Serão o gesto artístico e a ação de protesto veículos ou opositores um do outro? Que temos realmente em comum que possamos partilhar?

Partindo da ideia de impacto-zero como mote de reflexão sobre o efeito das nossas ações, começaremos por reconhecer a erosão a que esta expressão tem sido sujeita pela narrativa neoliberal, que tem empurrado a resolução das alterações climáticas para os hábitos de consumo individual. Do ponto de vista da criação artística, poderá não haver motivação mais banal do que o desejo de arregimentar vontades coletivas. A prática de Lígia Soares tem levado esta simples aspiração à letra, ao ponto de criar trabalhos que se dedicam quase exclusivamente a fazer os espectadores sentirem-se incomodados com a sua condição de passividade, fazê-los papaguear frases com as quais não se identificam, para sentirem até que ponto são levados a repetir o que se torna consensual, ou a cantar em coro uma canção, de modo a implicarem-se em grupo – apesar, por exemplo, de falar nas singularidades inultrapassáveis do amor ou a simplesmente “anular a presença dos atores, para que percebam que, se querem que aconteça alguma coisa, terão de ser eles mesmos a fazê-lo, repetindo que, se querem que aconteça alguma coisa, terão de ser elas mesmo a fazê-lo, repetindo, até à exaustão que, se queremos que aconteça alguma coisa, teremos de ser nós a fazê-lo e repetindo que, se querem que aconteça alguma coisa, terão de ser vocês a fazê-lo, podendo ficar eternamente a mudar o sujeito sem faltar à verdade. A questão impõe-se: como descobrir caminhos, para fintar as regras do mercado, que absorvem o sentido de todo o discurso dentro da sua lógica do gosto, e potenciar a ação? Mobilizar?

Aproveitaremos o regime imersivo de Na Prática, para deixar estas questões viverem, tomarem o seu tempo e trilhos diversos, através de uma série de práticas para onde a nossa curiosidade, o nosso corpo, nos quiser levar – individualmente e em conjunto, no contacto com o outro, com o chão que pisamos e com o território em volta. Uma pergunta rainha entoará aos nossos ouvidos: quem ainda não perdeu o ânimo? A esta pergunta, podemos responder: os ativistas climáticos. Retirando-nos para este lugar onde podemos analisar o real alcance dos nossos gestos, ousamos ainda imaginar um futuro?



INFORMAÇÕES PRÁTICAS

Participantes: Artistas, investigadores e estudantes de todas as áreas disciplinares, ou qualquer pessoa interessada em práticas colaborativas ou ativismo.

Nº máximo de participantes: 12

Inscrições: Até 31 de maio



As sessões decorreão em português, e inglês, se necessário.



Valor a pagar
100 € (10% desconto para estudantes FLUL)*

A inscrição inclui participação em todas as atividades da escola, alojamento (em camarata), refeições e seguro de acidentes pessoais. Não inclui deslocações

Todos os anos, oferecemos uma bolsa para a Escola de Verão – NA PRÁTICA a uma pessoa de cada uma das escolas parceiras:

— Estudantes do Programa em Estudos de Teatro ou Investigadores do Centro de Estudos de Teatro da FLUL

— Estudantes do Mestrado em Criação Coreográfica e Práticas Profissionais da Escola Superior de Dança

— Estudantes dos Cursos de Teatro e de Artes Plásticas da ESAD.CR – Escola Superior de Artes e Design, Caldas da Rainha

*Se é o teu caso, por favor preenche no formulário os campos assinalados com ✤



Modo de inscrição

As pessoas interessadas deverão preencher este formulário (CLICAR AQUI)

As inscrições serão analisadas e realizada uma seleção, considerando a diversidade e relevância dos perfis de participantes na constituição do grupo e no desenvolvimento das questões propostas.

principal menosqualidade
PROGRAMA
​​Terça-Feira, 2 de Julho

Manhã
Primeiro impacto: Receção dos participantes.

Almoço

Tarde
Tomar balanço: Quais as nossas intenções, como as declaramos? Análise de sinopses de projetos artísticos e de manifestos ativistas.

Quarta-feira, 3 de Julho

Manhã
Tensão: Ligações entre o discurso e a prática, a ficção e a realidade. Caminhar pelas margens com vista à queda.

Almoço

Tarde
Ressalto: Formas como o discurso/ação pode ser expelido ou absorvido pelos sistemas. Incursões pela floresta.

Quinta-feira, 4 de Julho

Manhã
Expansão: Questões de perceção. Entre a urgência e o efeito a longo prazo. Visionamento de filmes que exploram a consciência e a alienação.

Almoço

Tarde
Contração: Como viajar no tempo e como parar o tempo. Partilha de experiências e estratégias pessoais e artísticas.

Sexta-feira, 5 de Julho

Manhã
Colisão: Entre o gesto performativo e o gesto ativista. Recriar práticas artísticas e ativistas, a partir dos seus modus operandi.

Almoço

Tarde
Reverberação: A contaminação e a responsabilidade do global. Falar enquanto afundamos. Ação na praia fluvial.

Proliferação: Como levar mais longe os nossos gestos? Reunião em espaço público. Reunião de cidadãos.

Sábado, 6 de Julho

Manhã
Estilhaços: Tempo para fazer coisas que não sabíamos que iam ser impactantes.

Almoço
Media
+
Discursos Críticos
+
Artistas
+
Lígia Soares
Lígia Soares

Coreógrafa e dramaturga portuguesa residente em Lisboa. Estudou dança, mas desde 1999 o seu trabalho transita entre as disciplinas da dança, teatro e performance. O seu trabalho tem sido apresentado nacional e internacionalmente (Portugal, Brasil, Alemanha, França, Noruega, Holanda, Bélgica, Sérvia, Croácia, entre outros). Entre 2001 e 2014 foi diretora artística de Máquina Agradável. Desenvolveu também vários contextos de programação com outros artistas como o Demimonde, ou o Face-a-Face. Na sequência de trabalhos como “Romance” (2015), “O Ato da Primavera” (2017), “Turning Backs” (2016), “Jogo de Lençóis” (2019) prossegue uma pesquisa em dispositivos cénicos inclusivos da presença do espectador como elemento constituinte da dramaturgia do espetáculo, incorporando ou substituindo o próprio papel de performer. É mentora em diversos programas de escrita para cena e colabora regularmente como dramaturga em projetos de dança e teatro. As peças “Romance”, “Cinderela”, “Civilização”, “Memorial” e “A Minha Vitória Como Ginasta de Alta Competição” estão editadas pela Douda Correria. Recebeu a bolsa de criação artística e literária da DGLAB em 2020.

Henrique Frazão
Henrique Frazão

Henrique Frazão é um artista e ativista climático português.
O medo da amnésia levou-o, desde cedo, a querer registar e guardar muito daquilo que via, aprendia, pensava e sentia. Nesse sentido a fotografia foi tendo um papel cada vez mais importante, sendo encarada como um meio para imortalizar conceitos.
Desenvolve desde 2017 uma cápsula do tempo onde pretende arquivar, de forma exaustiva, imagens registadas sequencialmente. O embate com os dados da ciência climática, em 2018, fez com que passasse a encarar este projeto como uma urgência ainda maior. Nos últimos anos tem preparado um ambicioso projeto chamado Voyager Ø, que foi lançado no Burning Man 2023.
O mundo, tal como o conhecemos, desaparecerá em poucas décadas.
Que reste alguma memória.